AMARILHA, Marly. Alice que não foi ao país das maravilhas: a leitura crítica na sala
de aula. São Paulo: Vozes, 2013.
É imprescindível explicitar a
importância da obra, Alice que não foi ao país das maravilhas, da autora MarlyAmarilha,
para todos profissionais da educação. No capítulo quatro, temos a oportunidade
de entender as preocupações existentes entre a formação do profissional professor que educa
novos leitores. Nesse âmbito, a autora fundamenta-se através de uma pesquisa: o
ensino de literatura na escola: as respostas do aprendiz, realizada em 1994 no
Rio Grande do Norte, com 350 crianças da 1ª a 5ª série do 1º grau (ensino
fundamental).
Na primeira página,
discorre-se sobre o semi tópico intitulado de Leitor, realidade, imaginação e
ficção. Segunda a autora, existem dois
pólos: professor e aluno que pouco se conhecem, e ainda ressalta que
dificilmente os desejos dos professores coincidem com os desejos dos
aprendizes. E isso pode acarretar muitos problemas no decorrer dos anos,
culminando no fracasso escolar, na evasão em que o aluno não se sente parte
integrante desse ambiente escolar, ao contrário sente-se excluso. O que
contribui para isso é a pouca articulação entre os objetivos da escola e as
necessidades dos aprendizes.
Diante desse contexto, uma das
primeiras questões a serem enfocadas é a relação do leitor com o texto
literário e é através dessa indagação que desenvolve-se uma reflexão,
guiando-se através de um objeto de estudo que é o processo de identificação do
leitor versus personagem, considerando-se que está é a questão para que o
leitor se engaje no texto. (AMARILHA, 2013)
Outro aspecto preponderante
que a autora questiona e ao mesmo tempo não concorda, é quando a literatura é
utilizada apenas de forma pragmática, sendo apenas utilizada dentro de textos
gramaticais ou para enriquecer o vocabulário. A literatura perpassa por outros caminhos, sendo elevada a
outros postos, sendo ela produtora, receptiva e ao mesmo tempo comunicativa. Como
afirma Jauss, apud Amarilha (2013,
p. 79)
A literatura é produtora porque na
dinâmica da leitura literária o leitor atua elaborando sentido ao que lê:
completa cenários, desenha imagens de personagens. [...] receptiva porque o
texto traz marcas da orientação do significado, mas acolhe as significações que
o leitor lhe atribui. Comunicativa porque prevendo a multiplicidade do mundo de
cada leitor, o texto interage oferecendo e recebendo diferentes informação e
significados. (Jauss apud Amarilha,
Em síntese, ao ler uma
história, o leitor vai dando sentido aquilo que lê e em sua imaginação, ele
visualiza e completa os cenários daquela história e a literatura nesse momento
ela é produtora, e segue proporcionando novos significados, mas acolhendo os
significando que o leitor atribui, de acordo com sua leitura de mundo. E a
partir desse feedback entre texto e leitor ela se torna comunicativa, tendo
vista que no momento em que o leitor entra contato com o texto, há uma
interação em ambos, pois tanto o texto oferece informação e significados, como
recebe partindo do leitor a partir do seu ponto de vista. Mas, para compreender todo esse processo é
preciso antes entender a diferença entre ficção e o imaginário.
Nesse âmbito, a autora diz “
ficção é um ato guiado, preciso, enquanto que imaginação é difuso, instável”.
Em outro momento, ela conceitua dizendo “ podemos dizer que ficção é a síntese
da realidade e da imaginação”. A seguir,
ela enfatiza: “ela ficcionalização desencadeia-se um duplo processo: o real
perde seus contornos exatos ao mesmo tempo que o imaginário é controlado pela
forma estabelecida na ficção”.
Nesse viés, chegou o momento
de entendermos essas diferenças entre a ficção, realidade, imaginação. Como a própria autora afirma que a ficção é um ato guiado, a partir de um
texto, em que está escrito por exemplo: “só depois que o relógio parou de
bater...” após ler, o leitor imagina o relógio, o barulho do seu tic tac, fato
este orientado pelo texto, e a sua imaginação que é difusa, instável faz o
restante, produz e cria significados. A verdade é que a literatura tem o poder
de levar-nos para qualquer lugar, a partir da imaginação e voltar a realidade é
algo prazeroso, a partir do momento que tivemos contato com vários mundos,
lugares. Como afirma AMARILHA, (2013, p.
83).
No processo de leitura, está o leitor
imerso e identificado com os personagens. Mas nessa dinâmica, ele também
transita do real par ao ficcional e deste de volta ao real. Ao circular nesses
dois mundos, o leitor transfere de um mundo para as outras percepções, informações,
emoções. Assim, o que está escrito ultrapassa em significado as margens das
páginas –estabelece relações com outros textos, episódios, fenômenos do mundo
empírico.
Assim, é preciso enriquecer
mais ainda essa relação do leitor com a literatura é preciso que trazer o aluno
para dialogar o com o texto e isso só será possível quando texto e metodologias
oferecido tenha o espaço do leitor.
Dando ênfase a esse espaço de
trocas, podemos fazer com que os nossos discentes entendam muito bem a
distinção entre a realidade e a ficção, podendo navegar por esses dois mundos
tranquilamente. Mas o que ocorre na maioria das vezes não é isso, vimos através
da pesquisa que alunos não gostam de personagens que sofrem, porque trazem para
sua realidade, o que é ficção e as vezes as diferenças sociais também foram
elencadas, alunos com poder aquisitivo menor não sentem bem ao entrar em
contato com histórias de pessoas que são bem sucedidas financeiras, pois
acreditam que irão sofrer por não ter acesso aqueles bens.
Nesse âmbito, houve uma falha
na forma como a literatura foi tratada, não dando espaço e vigor necessário
para que esses momentos fossem tratados de forma coerente, em que a ficção não
deve misturar-se a realidade do seu mundo. O tráfego entre esses dois mundos, é
para estar aberto, com sinal verde, dando prioridade a liberdade e
transitoriedade em ir e vir, tendo em vista, o imaginário que é algo difuso. E
poder voltar para mundo real é algo que deveria ser tão natural, e tão
encantado como a história de Alice no país das maravilhas. Como afirma
AMARILHA, 2013, p. 86.
Sua resposta a esse
processo não estabelece uma realização satisfatória entre o real, o fictício e
o imaginário, pois se fixa nas suas projeções. Numa relação comunicativa
equilibrada, o leitor vivencia os sentimentos do personagem ficcional, que pode
ser alguém bastante diferente de si mesmo, mas sabe que essa situação com tempo
e espaço determinados cuja substancia imaginária está limitado pelo perfil do
personagem e pelo contexto ficcional propostos no texto.
Portanto, “a escola que é (ou
deveria ser) uma comunidade de leitores por excelências, deve também se
cultivar com uma comunidade de interpretes.” Oportunizando aos nossos
discentes, assim como Alice, viajar ao mundo encantado e maravilhoso da
literatura mantendo integridade e desfrutando dos prazeres dessa viagem sem
sofrimentos e nem autopunições. Escola e professores devem estar comprometidos
em ser esse passaporte para esse mundo encantado, mediando, incentivando e
apoiando essa linda e imprescindível viagem.
Discente: Josileide Eliane
Ana Leila;
Cecília;
Lidriana
Orientadora: Taysa Kelly